sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sem Reservas - Receita de Cinema



Aromas e sabores do filme Sem Reservas, no qual a deslumbrante Catherine Zeta-Jones enfrenta o calor do fogão.


Enfim surgiu um filme que glorifica a cozinha como célula mater da família, como já provaram todos os que se sentam em torno de fogões e fumaça de frituras. Sem Reservas (refilmagem da comédia alemã Simplesmente Martha) serve-se de uma maneira curiosa e divertida para vender seu peixe e estreitar esses laços, acrescentando algumas pitadas de rancor. A gastronomia cinematográfica é um campo de batalha. Vai da luxúria de A Festa de Babete ao grotesco A Comilança, clássicos da arte de forrar o estômago com intenções dramáticas. O maravilhoso mundo dos chefs estrelados não é bem o que parece ser. Dizem até que eles são tão vaidosos que, na França, desfilam entre as mesas não para saber se os clientes comeram bem, mas para recolher aplausos, pois acham impossível que não tenham ficado satisfeito. Assim é Kate (Catherine Zeta-Jones), nova-iorquina e lindíssima comandante de cozinha que se comove com trufas, lagostas, filets, massas e molhos em geral - e os defende contra fregueses bárbaros que não sabem comer. Acorda às 4h30 da manhã em busca dos melhores peixes, e não hesita em comprar trufas no mercado negro. É tão exigente que sua patroa a manda fazer análise, para que não enlouqueça ou desestruture os comensais. Pois ela atira um naco de carne crua na mesa de um cliente que reclama de um filet que não estaria malpassado, como pedira, gritando que mais malpassado que aquilo só se servisse um boi vivo.

No entanto, um destino cruel muda sua vida e seus temperos. É quando a gastronomia se transforma em pedagogia de boas maneiras à mesa e na vida. Com a morte da irmã, passa a cuidar da sobrinha Zoe (Abigail Breslin), que detesta o que ela faz no fogão. Para azedar as coisas, surge ao lado dos fornos do restaurante um subchef (Aaron Eckhart), que canta ópera enquanto vai jogando coisas nas panelas. Ela o detesta intensamente por ter invadido "sua" cozinha, onde vagabundo não entra, e o faz trabalhar. Kate é rebelde também com seu terapeuta, que freqüenta de má vontade, mas nada se compara em dor à rejeição da sobrinha a suas finíssimas iguarias. Só que a menina acaba aparecendo na cozinha da tia, olhando com cara de fome um tentador prato de spaghetti ao sugo com folhas de manjericão. Nhoc! Ela abocanha a massa do cozinheiro-tenor, para espanto de Kate. Não demora para que Zoe esquarteje nabos e cebolinhas com a destreza de um espadachim-samurai senhor das cozinhas.



É claro que Kate acha que fez tudo errado com a menina e daria um tiramisù, o manjar dos deuses, para que o chef-tenor desista de se mudar para São Francisco e fique dividindo o trivial simples com ela, embora seu terapeuta tema que ele não a suportaria. Contra a rigidez de Kate, o filme serve a doçura do sous-chef e de Abigail e, no final, os três estão tão amolecidos e saborosos como um naco de pudim. Quem dirige o filme é Scott Hicks, nascido em Uganda e naturalizado australiano. Ele fez fama com Shine (Brilhante) e garantiu um Oscar de melhor ator a Geoffrey Rush. Embora cozinha seja coisa séria para os personagens, Hicks tem boa mão para comédia romântica à antiga, como essa. Seus três mosqueteiros de avental são tão unidos que só mesmo uma sólida formação entre frigideiras poderia garantir. Mesmo os chefs que não têm a beleza de Catherine Zeta-Jones sabem disso. Portanto, não se deve destratar um chef ranzinza. Ele tem mais razões que seus temperos ocultam. E solidariedade é um prato que se serve quente.

Publicada na edição 180 (Outubro/2007) da Revista Gula








Codorna ao molho de trufas negras e ravioli de cogumelo



INGREDIENTES (2 porções)

Ravioli de cogumelos
4 cogumelos portobello grandes (de cor marrom, de textura firme e carnuda)
50 ml de óleo de oliva
1 dente de alho (grande) laminado
Flor de sal a gosto

Molho de trufas
200 ml de caldo de carne
20 ml de suco de trufas (use o suco das trufas em conserva)

Codorna
2 codornas inteiras limpas
8 lâminas de trufas negras (use trufas em conserva)
60 ml de óleo de oliva
Flor de sal
Pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Decoração
Ervas aromáticas
Óleo de oliva aromatizado com ervas

PREPARO

Ravioli de cogumelos
Corte os cogumelos de preferência com um mandoline (fatiador manual de vegetais), em oito lâminas finas. Esquente uma frigideira antiaderente, sem gordura, e doure as lâminas dos cogumelos. Pique em brunoise (pequenos cubos) os cogumelos restantes.
Em outra frigideira, aqueça o óleo de oliva e refogue o alho. Acrescente os cogumelos picados, salteie e tempere com a flor de sal. Monte pequenos ravioli, colocando uma lâmina de cogumelo como base, os cogumelos picados como recheio e outra lâmina no topo.

Molho de trufas
Reduza um pouco o caldo de carne com o suco de trufas, em fogo baixo.

Codorna
Tempere as codornas com flor de sal, pimenta-do-reino e introduza quatro lâminas de trufa no interior de cada codorna. Doure as codornas em uma frigideira com o óleo de oliva, depois leve-as ao forno quente (220 ºC), por cerca de 4 a 5 minutos, ou mais, se for necessário.
A carne deve ficar rosada por dentro.

Finalização
Sirva as codornas com o molho de trufas e os ravioli de cogumelos.
Decore os pratos com ervas aromáticas e gotas do óleo de oliva aromatizado.

Um comentário:

ivanise disse...

Olá!
Amo codorna e n filme quando vi preparar com as famosas trufas negras fiquei delirante.